Tuesday, May 22, 2007

Cabaret

Numa rua esconsa da cidade, uma porta abre-se diante de mim. Esconde um foier cheio de uma penumbra pesada pelo cheiro de tabaco. Um único foco de luz aponta para uma gaiola dourada com um papagaio embalsamado. O ex-animal está pintado de ouro e da sua pata esquerda pende uma etiqueta com algo escrito: “o silêncio é de louro”.
Deixo a minha gabardina ensopa, no bengaleiro, a uma senhora de idade com os lábios pintados de preto. Diz-me, “bem vindo!”.
À esquerda da sala, um balcão de bar forrado a latão reluzente. À direita um pequeno palco, onde três rinocerontes de tutu e de barba por fazer se acotovelam para mostrarem as suas tatuagens de guerra. Um deles exibe, com orgulho, uma boina vermelha trespassada por uma baioneta. Por baixo o lema: “os comandos nunca morrem”.
As mesas, à minha frente, são servidas por elefantes amarelos demasiado pequenos para serem africano. São nitidamente asiáticos. Sei que estão preocupados com o facto de serem amarelos. Têm icterícia, pensam eles. Para disfarçar pintam a trombas com baton cor de framboesa.
Por detrás, a atracção principal. Uma striper, com cabeça de basset hound, de enormes olhos chorosos dança para uma plateia de empresários do norte que riem alarvemente. Ela chora, mas tem a tanga cheia de notas de cinquenta euros.

1 comment:

andreia said...

Como seria mais divertido se a realidade que pintas existisse mesmo.
Gostava de beber um copo servido por elefantes que disfarçam a icterícia nesse cabaré alucinante!

A tua imaginação vale mesmo ouro :)