Tuesday, July 3, 2007

Policial de cordel - #02

Sentei-me ao balcão. Pedi o mesmo whisky de sempre, Bushmill’s com uma pedra de gelo.
Uma nota de €20 soltou a língua ao barman.
Revelou-me que o Sr. Dr. Carlos Brown tinha o hábito de escolher uma ou duas meninas e pedir ao seu motorista que o levassem até à sua casa de praia. A minha tarefa era simples. Segui-los tirar umas fotografias do velho em flagrante delito e entregá-las à sua amantíssima esposa.
Depois de dois copos vi o velho a levantar-se. Cambaleava como um junco numa tempestade, e se não fossem as suas duas “meninas” acredito que não conseguiria chegar ao carro.
Segui-os a uma distância segura até uma casa no topo de uma falésia isolada. O mar lá em baixo estava revolto e negro. Não havia lua, o que facilitava a minha tarefa. Inspeccionei a geografia que rodeava a casa e encontrei um ponto alto de onde podia observar.
Uma janela iluminou-se e eu saquei da Leika com teleobjectiva, roubada numa rusga da policia, e apontei-a para a janela do quarto.
O velho era ainda mais tarado do que pensava. Gostava de brincar aos comboios e de ser o chefe maquinista e fogareiro. Gastei dois rolos de 35mm e achei que tinha provas suficientes para considerar que minha tarefa estava cumprida. Tinha sido o caso mais fácil da minha carreira.
Da casa, trazidos pela brisa marítima, chegavam gritos de prazer quando decidi ir-me embora.
De repente ouviu-se o ladrar de uma arma.
Voltei a empunhar a Leika em direcção à janela do quarto e vi o velho estendido no chão. Alguém tinha achado que a parede do fundo do quarto precisa de um novo quadro e decidiram pintá-lo com os miolos do velho.
Decidi esquecer o meu disfarce e correr para a casa.

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